Enquanto nós, caras pálidas, exercemos nossos podres poderes, crianças da etnia guarani-kaiowá morrem subnutridas no Mato Grosso do Sul (MS). Índios brasileiros morrem de fome e de sede.
Nas antigas terras brasileiras viviam mais de seis milhões de pessoas, pertencentes à cerca de 900 povos diferentes. O processo de colonização, doutrinação religiosa e escravização, resultou no extermínio de centenas de povos e na destruição de uma imensa riqueza cultural.
Foto: Valter Campanato/ABr
Segundo a Fundação Nacional do Índio, hoje, no Brasil, vivem cerca de 345 mil índios, distribuídos entre 215 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,2% da população brasileira. Este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas – muitos deles em favelas. Há também indícios da existência de mais ou menos 53 grupos ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista.
O que é ser índio?
Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela primeira impressão que eles tiveram de terem chegado às Índias.
Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças lingüístico- culturais. Era mais fácil tornar os nativos todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um só: o domínio político, econômico e religioso.
Passados mais de 500 anos, nossa dívida para com estes povos continua imensa. Nossa sociedade ainda engatinha na obrigação de respeitá-los e tratá-los com a dignidade merecida.
"O Jornalista" convida todos os colegas do país a olhar atentamente para a questão indígena. Eles são brasileiros que há séculos sofrem e pagam com suas vidas pelas mazelas da nossa civilização. Mas, mesmo assim resistem. Por nós foram escravizados, mas sua abolição ainda não ocorreu. Continuam escravos dos nossos podres poderes e a mídia brasileira não pode relega-los ao esquecimento.
Lançamos hoje, Dia do Índio, o I Prêmio Pajé de Jornalismo. Afinal, a imprensa brasileira tem um papel fundamental a desempenhar na preservação da cultura e dos povos indígenas brasileiros. A questão exige um olhar atento. Vale lembrar que verbas públicas são destinadas para vários programas de saúde e alimentação dos povos indígenas. Mas, acompanhar essa questão não é uma missão fácil.
Para a nossa mídia, o índio brasileiro só é notícia pelo exotismo, morte ou barbárie. Índio não é pauta. A grande imprensa precisa fazer a sua parte e abrir espaço para os problemas e belezas dos povos indígenas.
No Dia do Índio, “O Jornalista” lança um desafio: o Prêmio Pajé de Jornalismo voltado para a questão indígena brasileira. Um desafio para que a mídia brasileira repense o seu papel frente ao índio e descubra que ele é pauta. O singelo objetivo da premiação é incentivar a discussão da questão na mídia.
No Dia do Índio premiaremos os melhores trabalhos. Afinal, mais do que povos do passado, os indígenas são povos do futuro, pois anunciam uma vida plena de significado humano. Para eles, matar crianças de fome e de sede ainda não são gestos naturais.
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