Após o surgimento de uma nova denúncia envolvendo o seu nome, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou o Grupo Abril, proprietário da revista Veja pelas matérias publicadas. Em carta enviada a cada um dos 80 senadores, ontem (6), Renan levanta dúvidas sobre a idoneidade de um negócio no montante de R$ 1 bilhão, envolvendo a venda da TVA - canal de TV paga de propriedade do Grupo Abril, que também edita a Veja - a uma empresa estrangeira.
Na carta, Renan Calheiros questiona se as denúncias apresentadas por Veja são balizadas por compromisso ético de investigar a lisura e o comportamento de homens públicos. “Ou, quem sabe, usar-me como cortina de fumaça para que, por suas sombras, acabe por ser celebrada uma nebulosa transação de cerca de R$ 1 bilhão, envolvendo a venda de uma concessão de canal de televisão pelo Grupo Abril, proprietário da revista Veja, a uma empresa estrangeira?”.
O presidente do Senado considera que a investigação do processo de venda da concessão da TVA é um assunto de interesse da sociedade. Neste sentido, ele propõe aos senadores que apurem o que classifica de “negócio bilionário que se deseja manter na obscuridade”.
Além de partir para o ataque contra o Grupo Abril, o parlamentar tenta, na carta, reforçar a seus pares a tese de que é vítima de uma disputa política regional. Segundo Renan Calheiros, a revista mantém as denúncias de corrupção envolvendo sua pessoa “no embalo das maledicências provincianas e do ressentimento dos derrotados”.
Até o momento, a revista apresentou três denúncias contra o parlamentar. A primeira, de que teria contas pessoais pagas por Cláudio Gontijo, funcionário da empresa Mendes Júnior, resultou na abertura do processo de investigação no Conselho de Ética. Em seguida, a Veja publicou informações de que o senador teria realizado gestões junto ao INSS e à Receita Federal em favor da cervejaria Schincariol.
Neste fim de semana, a revista publicou reportagem de capa na qual afirma que Renan Calheiros teria usado “laranjas” para adquirir clandestinamente veículos de comunicação em Alagoas.
O Grupo Abril afirmou que a revista Veja "investiga, apura e denuncia tudo o que prejudica o Brasil e os brasileiros e pretende continuar fazendo isso".

Leia abaixo a íntegra da carta de Renan Calheiros aos senadores
"Prezada amigo(a),
Como é notório, uma revista semanal, sem limites éticos e qualquer critério jornalístico, travestida de tribunal político, vem difundindo inverdades, tentando desonrar o mandato que me foi legitimamente outorgado pelo povo de Alagoas, e dificultar a minha permanência na direção da Casa.
Reafirmo a Vossa excelência que sempre preservei a dignidade do cargo que ocupo.
Jornalistas e repórteres são as mais expressivas testemunhas do meu respeito pela liberdade de imprensa. No entanto, reajo com veemência a essas reiteradas torpezas.
É nítido o propósito da revista de manter aceso, artificialmente, o pseudo-escândalo por ela mesma criado. Como as primeiras acusações já foram por mim rebatidas definitivamente, agora fabricam outras, no embalo das maledicências provincianas e do ressentimento dos derrotados.
A derradeira frustração foi tentar me envolver numa negociação da Schincariol em Alagoas, quando logo ficou claro que nada tenho a ver com a empresa vendida.
Dessa vez, além da capa, a revista reservou generosas páginas para destilar vilanias. E mais uma vez mentiu.
Grande parte da Nação está curiosa. Quer saber o que está por trás de tudo isso, desta voraz e contínua tentativa de linchamento moral. Desses ataques que não cessam.
Patriotismo? Compromisso ético com a lisura e o comportamento dos homens públicos? Ou, quem sabe, usar-me como cortina de fumaça para que, por suas sombras, acabe por ser celebrada uma nebulosa transação de cerca de R$ 1 bilhão, envolvendo a venda de uma concessão de canal de televisão pelo Grupo Abril, proprietário da revista Veja, a uma empresa estrangeira?
Este, sim, um assunto que verdadeiramente interessa à sociedade brasileira. Talvez fosse o caso de investigar o negócio bilionário que se deseja manter na obscuridade.
Ninguém ignora o poder dessa gente. Aliás, poder ostensivamente demonstrado na série interminável de reportagens infamantes, editadas para garantir que detalhes sórdidos da operação não venham à tona.
De minha parte, asseguro a vossa excelência que tanto no plano ético quanto no plano moral nada devo.
Não irei decepcioná-lo (a).
Afetuosamente,
Senador Renan Calheiros"
Fonte: Agência Senado e Brasil