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05/06/2008
Filho de Tim Lopes escreve carta para equipe de O DIA
 

Bruno Quintella, de 25 anos, filho do jornalista Tim Lopes, morto há seis anos, por traficantes, enquanto fazia matéria para a Rede Globo, escreveu uma carta aos três membros da equipe de O DIA, que foram torturados por membros da milícia que controla a Favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste.

Confira a íntegra da carta:

"Meus queridos colegas,

Ainda estou sob estado de choque pelo o que aconteceu. Não bastasse a infeliz coincidência, pela proximidade do aniversário de morte de meu pai, fui surpreendido pela má notícia quando chegava para trabalhar no plantão da madrugada, há quatro dias. A edição de domingo do jornal "O Dia", lida ainda no sábado, anunciava em letras garrafais brancas e com fundo negro a covardia a qual vocês foram submetidos na Favela do Batan, em Realengo. Mais um atentado contra a imprensa e principalmente, contra o estado democrático de direito. Uma afronta não só ao jornalismo, mas ao ser humano e à dignidade. Um atentado contra nós. Uma tentativa de nos intimidar, jornalistas e cidadãos, mas, ao que parece, essa prática não é mais exclusiva dos traficantes de drogas. Não se trata mais de poder paralelo, nem poderes. Como na matemática, ironicamente sem lógica, no entanto, são projeções paralelas de um poder falido e moribundo. A milícia funciona, no sentido antropológico da questão, como anti-tráfico de drogas. É uma atividade que cresceu muito em pouco tempo, tangenciando os limites físicos e latifundiários da indústria do narcotráfico carioca, supostamente para sufocá-lo. Ora, como pode existir a milícia sem o tráfico? Como podem existir essas duas modalidades de crime, sem a ausência do Estado?

O curioso é que, passados vinte dias desde a violência sofrida pela equipe, muitos questionam a conduta do jornal e dos profissionais envolvidos, do risco, do perigo. Dai a César o que é de César - e a Deus o que é de Deus. Não podemos esquecer - e não vamos - meus colegas, da barbárie, da covardia, da violência física, dos choques, da humilhação e do trauma. Nisso, não há o que discutir. Não há o que opinar, não há conduta certa: sofrer na pele, só quem sofreu. A morte de Tim Lopes foi um divisor de águas nas questões de coberturas jornalísticas de violência e segurança pública. Fazer reportagens sobre esses temas, principalmente quando se trata de uma intimidação ao trabalho da imprensa, com tortura e, até a morte, é nosso papel, nosso ofício, dentro ou fora da redação. Porém, está na hora da mobilização. Como lembrou bem o colega Jorge Antônio Barros, nós jornalistas, também precisamos sair do casulo "para ver melhor a dor que não sai no jornal". Precisamos convocar para essa luta todos os cidadãos que já foram vítimas de violência, seja ela de qualquer tipo.

Não sei onde vocês estão, mas sei que estão bem, em local seguro, e me solidarizo ao que vocês passaram, porque imagino como estejam suas famílias, já estive daquele lado, na turma dos terços, das mãos dadas, do rosto molhado, das noites sem dormir. Naquela edição de domingo, dia 1º, todos nós fomos ao Batan. Todos nós apanhamos, fomos eletrocutados, desmaiamos e fomos largados à beira da Avenida Brasil. Existe exame psicológico de corpo de delito? Cicatrizam-se as chagas de um trauma? Não, vocês não são heróis. Não, não acabou o sofrimento. Vocês são corajosos, arriscaram a vida para mostrar à sociedade o drama de quem vive sob poder da milícia. Só não esqueça que tem muita gente aqui do seu lado, mesmo vocês estando longe. Sou jornalista, filho de jornalista, sobrinho de jornalista, afilhado de jornalista e escrevo a vocês como homem, como amigo e, claro, como profissional. No entanto, para nós, não é possível desvencilhar essa trinca, é?

Meu pai morreu para contar a história. Vocês também foram vítimas da violência, a do outro lado, a dos maus policiais. Ainda me pergunto se a maior afronta foi o espancamento, o cala-boca, a intimidação, a covardia, ou se foi deixá-los vivos, mesmo depois de se identificarem como policiais. A impressão que fica é quem morre vive menos, mas, quem vive morre mais. Conviver com o trauma, a pena para quem viveu o pesadelo; a certeza da impunidade, a motivação para a continuidade da atividade da milícia.

Elias Maluco, 01, Largo do Chuveirão, Favela da Grota, tribunal do tráfico, tribunal da milícia, poder paralelo, afronta, tortura, barbárie, intimidação, estado democrático de direito, resposta, cobrança, mobilização, paz, solidariedade, conduta, profissão, risco, morte e vida. São palavras do dicionário da violência do Rio. E nós, jornalistas e cidadãos, somos analfabetos que sabem escrever.

Fonte: O Dia Online

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