O policial civil Odinei Fernandes da Silva, 35 anos, o Zero Um, e Davi Liberato de Araújo, 32 anos, o Zero Dois, foram condenados a 31 anos de prisão por tortura, roubo e formação da quadrilha armada. A sentença é do juiz da 1ª Vara Criminal de Bangu, Alexandre Abrahão Dias Teixeira, que julgou os réus por crimes cometidos contra uma equipe do jornal O Dia em 14 de maio do ano passado, na favela do Batan.
Os réus chefiavam o grupo militar conhecido como “Águia”. Reconhecidos pelas vítimas e por testemunha de acusação, foram responsabilizados diretamente pelo terror vivido pela equipe, constituída por uma repórter, um fotógrafo e um motorista. Durante horas as vítimas foram mantidas em cárcere privado no interior de um barraco, submetidos a socos, pontapés e tortura, como choques elétricos, sufocamento com saco plástico e roleta-russa.
Com o rastreamento do telefone de Odinei, comprovou-se que durante o sequestro Odinei estava em bairros próximos ao Batan e não em uma festa na localidade de Catiri, e Davi foi reconhecido por uma das vítimas e a testemunha de acusação.
Para o promotor Renato Monteiro Sardão, a sentença “representa um marco na guerra pela desarticulação das milícias que atuam na Zona Oeste. É a resposta que sociedade espera do poder público”, avaliou. O advogado dos dois condenados disse que vai recorrer da decisão no Tribunal de Justiça do Rio.
Até ser dominada pelo grupo, a equipe de O Dia estava morando na favela havia duas semanas, colhendo informações sobre a vida dos moradores em uma comunidade dominada pelo poder de milicianos armados. Os milicianos vendiam botijões de gás, sinal pirata de TV a cabo e segurança clandestina, além de ter planos para montar curral eleitoral. Outros sete réus respondem por envolvimento com a milícia do Batan. Dois deles são acusados de participação na tortura. Cinco foram denunciados à Justiça por formação de quadrilha. Gladson da Silva Leite, o Dedo, responsável pela segurança no Batan, foi assassinado em fevereiro.
Apoio do Sindicato
Preocupado com o destino da equipe após o sequestro e a tortura, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro reivindicou em reuniões com a direção do jornal O Dia o compromisso de a empresa apoiar plenamente os profissionais. Em junho do ano passado, encaminharam documento em que pediam para as vítimas estabilidade no emprego por dez anos, além de segurança, apoio material, jurídico e psicológico. Em setembro, O Dia se comprometeu a garantir, pelo período de cinco anos, o pagamento de despesas com moradia e auxílio psicológico, além de outros gastos necessários à permanência das vítimas fora do Rio de Janeiro, salientando que o prazo poderia ser estendido em caso de necessidade. O Sindicato continua atento diante do caso e no atendimento às vítimas e suas famílias.
Fonte: site do SJMRJ