O proprietário do Jornal de Piracicaba e presidente do Sindicato patronal de jornais do interior, Marcelo Batuíra, demitiu na tarde de ontem (dia 21), o diretor do Conselho Fiscal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Carlos Eduardo Luccas Castro, que é funcionário da empresa. A demissão ocorreu em plena campanha salarial, semanas depois de uma manifestação da redação contra a mudança no plano de saúde. Na ocasião os jornalistas pararam suas atividades por uma hora.
"A atitude truculenta demonstra o tipo de empresário que gere os negócios da Comunicação no Brasil, que não aceita a crítica ou funcionários que reivindicam seus direitos. A demissão do diretor em meio à campanha salarial é uma atitude autoritária de pessoas pouco afeitas ao convívio democrático e ao diálogo”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto Camargo (Guto).
Segundo o dirigente, o Sindicato enviará uma carta à empresa exigindo a reintegração do diretor. Caso ela não se efetive, o Sindicato tomará medidas judiciais. “É inaceitável este tipo de atitude contra os trabalhadores e, sobretudo, contra um representante eleito pela categoria para representá-la nas negociações”, diz Guto.
A demissão tem tido forte repercussão. O diretor de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SP), Daniel Reis, escreveu artigo analisando as campanhas salariais do segundo semestre e também fez duras críticas contra a demissão do dirigente sindical dos jornalistas, dizendo tratar-se de “um atraso nas relações de trabalho e a presença de resquícios de um passado escravocrata e de uma cultura conservadora e autoritária ainda enraizada na cabeça de muitos empresários”.
Leia o documento de repúdio enviado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo à empresa e ao Sindicato patronal:
"Causou-nos profunda estranheza o fato do Jornal de Piracicaba ter demitido o dirigente sindical Carlos Eduardo Luccas Santos em pleno processo negocial para o estabelecimento de uma nova Convenção Coletiva. O fato torna-se ainda mais incompreensível por se tratar do jornal pertencente ao presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas no Estado de São Paulo, responsável pelo bom andamento das negociações.
Também nos preocupa o fato de que a demissão ocorre cerca de 40 dias após paralisação de cerca de uma hora realizada pelos empregados da empresa, reivindicando a continuidade do plano de saúde. Neste movimento, Carlos Eduardo, integrante do Conselho Fiscal, fez a intermediação entre a empresa e os trabalhadores, cumprindo exemplarmente seu mandato sindical, aliás, em mais um movimento vitorioso da categoria.
A situação se mostra ainda mais absurda quando tomamos conhecimento de que o jornalista trabalha na empresa há 25 anos, completados no início deste ano. Isto deveria ser motivo de comemoração e reconhecimento, nunca de dispensa sumária.
Em vista do exposto, protestamos contra a arbitrariedade da demissão e exigimos a reintegração do nosso diretor. Caso não seja cumprida esta medida, tomaremos as atitudes judiciais necessárias.
Finalmente, esperamos que esta atitude absurda não se reflita negativamente na relação negocial em curso".
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo