Não foi uma boa idéia. O governo brasileiro errou na dose e decidiu cancelar o visto temporário do correspondente Larry Rohter, do "New York Times", e coleciona críticas de todos os lados. O cancelamento do visto significa uma expulsão do jornalista. Ele terá oito dias para deixar o país, depois de receber oficialmente a equivocada decisão.
Em nota à imprensa, o Ministério da Justiça informa e justifica a decisão: "Em face de reportagem leviana, mentirosa e ofensiva à honra do presidente da República Federativa do Brasil, com grave prejuízo à imagem do país no exterior, publicada na edição de 9 de maio passado do jornal "The New York Times", o Ministério da Justiça considera, nos termos do artigo 26 da Lei nº 6.815, inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto. Nessas condições, determinou o cancelamento do visto temporário do senhor William Larry Rohter Junior".
A Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE), lamentou a decisão do governo brasileiro de cancelar o visto temporário do jornalista Larry Rohter, correspondente do The New York Times, no Rio de Janeiro, e espera que reconsidere essa retaliação que prejudica o direito de livre expressão da imprensa estrangeira no Brasil.
A ACE divulgou carta aberta ao governo brasileiro em que afirma:
A ACE não concorda com o conteúdo da matéria do Sr. Rohter, por considerar que foi tendenciosa nem com as afirmações de que o "hábito de beber" do presidente seja uma "preocupação nacional" nem de que "sua preferência por bebidas fortes" esteja afetando sua performance no cargo, como foi declarado no artigo. Consideramos também que as fontes ouvidas foram parciais e que a apuração da matéria foi incompleta.
Estamos preocupados, no entanto, com a atitude desnecessária do governo de censurar um jornalista. A ação contra o correspondente acabou dando a um artigo, que até então tinha pouca repercussão, uma amplitude que não merecia e criou uma nova polêmica que, agora sim, corre o mundo e ganha as manchetes da imprensa nacional.
Nós, jornalistas da imprensa estrangeira, precisamos de nossos vistos para trabalharmos e esperamos poder exercer nossas funções sem o temor de que seremos censurados ou perseguidos caso escrevamos artigos que não sejam do agrado do governo. Neste sentido acreditamos que a ação contra Rohter cria um antecedente lamentável para a relação entre o governo e a imprensa, tanto nacional como estrangeira.
Não entendemos como um governo democrático que teve seus líderes perseguidos e censurados, toma uma decisão autoritária, logo com a imprensa estrangeira que, durante os anos do regime militar, levou muitas das denuncias feitas no Brasil contra a ditadura, à opinião pública internacional. Foram, aliás, correspondentes da ACE, que em 1977 realizaram a primeira entrevista de repercussão internacional do então líder sindical e atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sabemos do interesse do governo em tentar facilitar nosso trabalho, conforme foi comunicado durante uma reunião que tivemos em abril com duas assessoras de comunicação do Palácio do Planalto, por isso acreditamos que o governo admitirá sua falha e voltará atrás nesta decisão.