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02/12/2014
Violência Policial: uma ameaça à democracia
 

Um policial militar pega uma bomba de efeito moral, puxa a calça do jornalista Bruno Cassucci de Almeida, correspondente do Jornal Lance em Santos (SP), a coloca dentro e diz: "Você não é macho? Quero ver ser macho agora". A bizarra cena protagonizada no último domingo (30/11) foi o ápice dos momentos de tensão e agressão que sofreu o repórter nas mãos de policiais, que atuavam nas imediações da Vila Belmiro, após o jogo entre Santos e Botafogo.

Ao tentar registrar a briga envolvendo torcedores das duas equipes e a ação da Polícia Militar, o jornalista acabou detido, revistado e agredido, sob a mira de uma arma. Um policial ainda pegou o aparelho celular do jornalista e apagou todas as imagens registradas. Depois de cerca de dez minutos foi liberado.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudiou a agressão sofrida pelo repórter Bruno Cassucci de Almeida e exigiu providências das autoridades paulistas. "Diante de toda essa atrocidade, o Sindicato exige a identificação e punição dos responsáveis pela absurda abordagem ao jornalista Bruno Cassucci de Almeida", divulgou a entidade de defesa dos jornalistas.

No final da manhã de hoje (02/12), o comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I), coronel PM Ricardo Ferreira de Jesus, em reunião com o diretor regional de Santos, Baixada Santista e Vale do Ribeira, do Sindicato dos Jornalistas, Carlos Ratton, no batalhão localizado na Ponta da Praia, disse que vai se empenhar pessoalmente na questão, que ele garante ser incompatível com as normas de conduta da Polícia Militar.

O coronel se colocou à disposição do jornalista para ouvi-lo e registrar suas declarações ao inquérito policial militar (IPM), que foi aberto para apurar todos os fatos envolvendo o confronto entre as torcidas e a atuação dos policiais. O ofício enviado pelo Sindicato narrando o fato e pedindo punição aos policiais também será incluído ao inquérito.

O caso é mais um que vem a se somar a dezenas de outras agressões da PM, promovidas nos últimos tempos, contra jornalistas em pleno exercício profissional. A violência policial é um grave problema que tem que ser solucionado pela sociedade. A violência ilegítima praticada por agentes do Estado, que detêm o monopólio do uso da força, ameaça substancialmente as estruturas democráticas necessárias ao Estado de Direito.

A polícia representa o aparelho repressivo do Estado que tem sua atuação pautada no uso da violência legítima. É essa a característica principal que distingue o policial do marginal. A polícia só pode atuar sob a lei, dentro dos padrões de respeito aos direitos fundamentais do cidadão – como direito à vida e à integridade física. Não pode ser diferente. 

Confira abaixo o relato do repórter sobre o episódio:

Não quero aparecer, muito menos levantar bandeira. Tenho minhas opiniões, sentimentos aflorados neste momento e a cabeça ainda confusa. Escrevo não para fazer juízo de valor, nem generalizar uma classe que sei que é mal paga, mal equipada e que deveria servir a uma sociedade que em boa parte lhe detesta. Como jornalista, acredito que não há opinião sem informação, e é por isso que venho aqui relatar o que vivi na tarde desse domingo, na Vila Belmiro.

No pior dia da minha curtíssima carreira jornalística e um dos piores da minha vida, fui agredido, ameaçado e tive material jornalístico apagado por policiais militares. Pensei em escrever “censurado”, mas por mais que entenda que foi isso que aconteceu, sei que a censura no nosso país já foi muito pior no passado do que a que sofri hoje, de modo que não seria justo colocar tudo num mesmo balaio.

A ordem cronológica foi a seguinte:

Como setorista do Santos no LANCE!, fui escalado para fazer a cobertura da partida da equipe contra o Botafogo. Como os paulistas já não almejam nada neste ano e o clube carioca acabou rebaixado, fui designado a ir para o vestiário visitante após o jogo. Assim que cheguei lá, ouvi barulho de bombas na rua. Ciente da minha função e ignorando as corriqueiras orientações da dona Maria, minha mãe, fui até lá averiguar o que se passava. Não era possível ter certeza, mas tudo indicava que vândalos que se dizem torcedores das duas equipes estavam brigando.

Decidi não ir ao encontro da confusão, como já fiz em outras ocasiões, mas fiquei ali esperando. Passado um tempo, a polícia se concentrou e foi para o lado esquerdo, próximo à entrada principal da Vila e na rua onde fica a sede da organizada Sangue Jovem. Fui atrás, mas mantendo distância. Ali bombas de efeito moral foram arremessadas, e alguns santistas revidaram atirando garrafas e paus. A polícia invadiu a sede da organizada e era possível ouvir explosões e barulho de vidro estilhaçado. Um morador da vizinhança me chamou para dentro de sua casa. Fiquei pouco tempo ali e logo voltei para a rua, a fim de tentar entender - e consequentemente relatar - o que estava acontecendo.

Uma policial, então, me mandou sair "vazado". Argumentei que eu estava trabalhando e ela retrucou: "Eu também. Dá linha, curioso!"

Voltei para a frente da casa na qual havia entrado e esperei as coisas se acalmarem. Já não se ouvia mais bombas ou disparos e decidi voltar para a frente da Sangue Jovem. Foi então que começou tudo.

Estava tirando fotos com o celular quando um policial me viu e, com a arma apontada para mim, gritou para eu encostar na parede, com as mãos para o alto. Eu disse que era jornalista, mas isso parece não ter ajudado, pelo contrário.

No procedimento padrão - ao qual já havia sido submetido em abordagens policiais no passado - fui revistado com certa agressividade, mas até aí tudo bem. Depois de verificar que eu estava "limpo", o policial, já cercado por outros, pediu para eu abrir minha mochila, que também foi revistada. O passo seguinte foi tomar meu celular. O oficial pediu para eu desbloquear o aparelho e acessar as imagens. Ele então começou a apagar uma por uma. O procedimento durou uns cinco minutos, que pareceram eternos.

Enquanto ele fazia isso, uma outra autoridade pediu para eu não olhar para trás. Errei. Instintivamente, segundos depois eu acabei olhando para o celular e então fui agredido no rosto.

Depois, a policial que havia me abordado antes, aquela do "dá linha, curioso", me disse que eu já tinha sido avisado. Eu novamente argumentei que estava ali trabalhando, e ela afirmou: "Eu também estou e você não respeitou meu trabalho". Até agora não sei qual foi meu desrespeito.

Um outro oficial que se aproximou disse que eu estava ali para "defender torcedor" e que a mídia só mostrava quando a polícia bate "nesses caras". A minha intenção era exatamente outra, ouvir algum responsável pela operação para tentar entender o que estava acontecendo.

Foi então que ocorreu a cena mais aterrorizante de toda a abordagem. Um PM aparentando muito nervosismo, se colocou entre mim e a parede, pegou uma bomba de efeito moral, puxou minha calça e a colocou dentro. "Você não é macho? Quero ver ser macho agora". Como fiz durante todo o episódio, expliquei que era jornalista, pedi desculpas, o chamei de "senhor". Ele falou mais algumas coisas que não me lembro e saiu.

Aliás, tudo isso aconteceu há cerca de quatro horas e eu já não lembro de diversos detalhes, pelo choque e medo, obviamente. Fiz questão de olhar o nome de todos, um por um, mas já me esqueci de boa parte. Aquela mesma policial percebeu quando eu olhei para a identificação dela e ironizou: "Quer levar para casa? Tenho várias outras, pode levar".

Após apagar todas as fotos, o policial que me enquadrou mandou eu desligar o aparelho e tirar o chip e a bateria. Expliquei que era impossível no iphone e, graças a uma outra oficial que estava perto, ele acreditou.

Por fim, entreguei meu documento ao PM, que saiu e voltou instantes depois. Antes de ser liberado, ele me deu um recado, que começou com algo como "sei que você vem sempre aqui e eu também venho". Não lembro a continuação, mas tenho a impressão que se tratava de uma ameaça.

Ouvi uma ou outra ofensa dos demais oficiais ali presentes e fui liberado.

Já estou em casa, sem qualquer arranhão no corpo, mas com a adrenalina ainda a mil. Poder abraçar minha mãe, jantar o que ela preparou e saber que nada pior aconteceu é tranquilizante. Saber que todos os dias abusos desse tipo e outros muito piores acontecem com gente que não sabe ou não tem como se expressar é o que preocupa. Sei de todos os privilégios que tenho por ser branco, não viver na periferia e ter tido a oportunidade de estudar. Se passo por situações como essa, com certeza há quem viva coisa muito pior diariamente.

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