Assombro, repúdio e luto. Assim o mundo reagiu ao ataque terrorista ao jornal francês Charlie Hebdo, ocorrido na manhã desta quarta-feira (07/01), em Paris, na França. O ataque resultou na morte de 12 pessoas e deixou, pelo menos, outros dez feridos. Entre os mortos estão cinco jornalistas -os cartunistas Charlie Hebdo Charb (Stéphane Charbonnier), Cabu (Jean Cabut), Wolinski (Georges Wolinski), e Tignous (Bernard Verlhac) e o repórter Bernard Maris, outros cinco funcionários da revista e dois policiais que faziam a segurança do editor Stephane Charbonnier, que estava sob proteção policial.
O polêmico jornal já havia sido vítima de ameaças, processos e ataques. Em 2011, o escritório do jornal foi alvo de um ataque com bombas, após a publicação de caricaturas do profeta Maomé, que tudo indica, está na raiz do atentado de hoje. A polícia francesa já teria identificado os terroristas.
O Jornalista solidariza-se aos familiares das vítimas e no desejo de que os terroristas sejam punidos.
Logo no início da manhã, três homens encapuzados saíram de um carro preto estacionado na porta do prédio onde fica a redação. Eles invadiram o local armados com fuzis Kalashnikov e um lança-foguetes. Após atacarem a redação do jornal, os terroristas ainda mataram um policial na rua, agrediram um motorista e atropelaram um pedestre com o carro roubado.
Outras 10 pessoas teriam ficado feridas, cinco em estado grave. Fontes policiais afirmaram que os autores do ataque gritaram “Vingamos o Profeta!”, em referência a Maomé, alvo de charges publicadas pelo jornal. Um funcionário do Charlie Hebdo declarou ao jornal L’Humanité que os atacantes falavam bem francês e “reivindicaram ser da Al-Qaeda”.
Os terroristas fugiram em um carro que seguiu no sentido de Port de Pantin, no norte de Paris, onde os suspeitos o abandonaram e roubaram um segundo veículo, no qual continuaram fugindo. O carro deixado foi periciado pelas autoridades, que encontraram impressões digitais e documento de identidade.
O Charlie Hebdo fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior. A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano. “As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes… Em 2022, faço o Ramadã!”, ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.

O ataque não foi apenas contra o jornal francês, mas também contra a liberdade de imprensa e de expressão. Em resposta ao atentado terrorista manifestações foram organizadas em diversas cidades da França pedindo paz e uma resposta das autoridades. "Je suis Charlie", ou "Eu sou Charlie", é a imagem mais vista nos cartazes dos manifestantes.
O jornal foi criado em 1970 e nunca hesitou em publicar desenhos provocadores. Entre eles, estão 12 charges do profeta Maomé, em fevereiro de 2006.
Em 2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão por ter pedido na internet que o diretor Stephane Charbonnier fosse decapitado por causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.
Liberdade de expressão x sagrado
O Alcorão proíbe imagens de figuras sagradas e o ataque terrorista de hoje expõe o conflito entre o princípio sagrado religioso do Islã e o político da liberdade de expressão ocidental.
Em 1995, os católicos não gostaram nem um pouco quando um pastor evangélico brasileiro desferiu um chute em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em pleno programa de televisão. Ninguém gosta que os símbolos sagrados de sua religião sejam ridicularizados.
É verdade que a crítica às religiões é sagrada e deve ser permitida, mas Nossa Senhora, a Bíblia e a própria Cruz dificilmente são objeto de ridículo nos meios ocidentais de comunicação.
Nada justifica o ataque terrorista em Paris. Mas o Profeta Maomé é, para os muçulmanos, uma figura sagrada. Por isto, no nosso entendimento, deve ser respeitado em nome da tolerância religiosa e do respeito à diferença, com a mesma consideração que se tem, no Ocidente, pelas imagens cristãs.