Na noite da última terça-feira (24/11), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) reabriu o seu histórico Cineclube Vladimir Herzog. A estreia não poderia ser diferente, carregada de valores simbólicos e nostálgicos, com a exibição do filme Vlado, 30 anos depois, do cineasta João Batista de Andrade, que esteve presente e participou de debate após a projeção.
João Batista, que trabalhou com o Vlado em Londres, construiu o filme para preservar a memória do amigo. "Apesar do filme ter sido lançado em 2005, esse dos 30 anos da morte do Vlado, continua sendo o filme mais importante sobre ele. Acho que é autodescritivo e muito revelador sobre o aspecto da ditadura e o Sindicato dos Jornalistas é o centro da história do Vlado. Então é muita emoção", declarou o cineasta.
O filme começa com João Batista colhendo depoimentos de pessoas na praça da Sé, perguntando se elas sabiam quem tinha sido Vladimir Herzog. A partir desse momento, a história do jornalista assassinado no DOI-Codi, no dia 25 de outubro de 1975, é contada através de depoimentos de pessoas próximas, jornalistas e familiares de Vlado.
O secretário Jurídico do Sindicato, Vitor Ribeiro, que também é um dos responsáveis pela montagem e organização do Cineclube, falou do valor histórico e da sua expectativa. "Temos a pretensão de resgatar o sucesso que o Cineclube teve em todo o seu sentido. Propiciar ao público exibições raras e ainda dar a oportunidade de conversar com os produtores dos filmes. E esse Cineclube teve um papel muito importante, principalmente no combate à repressão daquela época e do sufoco cultural que existia no Brasil".
Victor Chinaglia Junior, diretor jurídico do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo, que atuou na reativação do Cineclube, contou que o "Cineclube é um ícone na luta pela liberdade e democracia". Para Sérgio Gomes que presenteou João Batista com um livro da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo e foi participantes do filme, esteve presente e disse que é "importante o SJSP debater as questões de natureza política e cultural". A diretora do SJSP, Rose Nogueira, que trabalhou com Vlado na TV Cultura, também foi uma das pessoas que deram depoimento no filme.
João Luiz de Brito Neto, um dos participantes do cineclube do Sindicato nas décadas de 70 e 80 e participante do atual, avaliou a primeira sessão. "O sentimento é a prova da retomada. O cineclube é isso, é você ter o filme e o debate. Acho que isso é uma escola do cinema, uma escola política, que começa a fazer uma formação ideológica, não só por ver a obra, mas para entender o que está atrás dela e qual a sua verdadeira mensagem".
As sessões no Cineclube Vladimir Herzog serão exibidas às terças-feiras, exceto feriados. O segundo filme será apresentado no dia 8 de dezembro, às 19h30, um documentário sobre Carlos Marighela, com a presença da cineasta Isa Ferraz.
Legenda 1: João Batista de Andrade, diretor do documentário. Atrás dele, retrato de Vladimir Herzog
Legenda 2: Público acompanha a exibição do filme
Fotos: Cadu Bazilevski